quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

Relato de uma amamentação fracassada

Eu gosto de escrever, contar minhas experiências, parece que quando escrevo, falo comigo, aí eu reflito.

E o que eu vou escrever não é fácil, vai ser a reflexão mais dolorosa que já tive na minha vida (até hoje pelo menos).

É muito comum que as mulheres compartilhem suas boas experiências e sucessos quando o assunto é maternidade e parto, porém os fracassos é raro de se achar alguma coisa.

É com o objetivo de ajudar outras mulheres que possam ter fracassado que escrevo este texto (além claro de chorar litros e refletir um pouco).

A minha amamentação foi um fracasso (ai como dói). Eu busquei na internet relatos de amamentação que não deram certo, queria achar alguém com a mesma dor que eu, porém só achei coisas lindas ou que no final tinham um final feliz, ou ao menos que tinham as frustrações não contadas. Então eu me sentia a ultima das últimas.
Aos 17 anos fiz uma cirurgia de redução de mamas. Na época o médico garantiu que não haveria problemas em amamentar então entrei na faca. De uma adolescente tímida e encurvada me tornei uma pessoa com a auto-estima nas alturas, comprei blusas de decotes, tingi o cabelo de loiro, então passei a me sentir muito mais parecidas com as meninas da capa da Capricho que eu gostava de ler. Atraia muito mais os meninos, comecei a usar lentes de contato e enxergava quem me paquerava. E eu me sentia muito feliz assim, afinal, agora meu corpo correspondia um pouco mais à expectativa do mercado, pois naquela época ainda não era moda ter peitos grandes.

Não me arrependo da cirurgia, sabe-se lá que rumo eu teria tomado se eu tivesse sido tímida pro resto da minha vida, afinal meus peitos eram realmente caídos e feios, acho que eu teria mais vergonha de mostrá-los assim para um cara do que de mostrar as cicatrizes... Mas a verdade é que se eu pudesse voltar no tempo, eu teria feito diferente (opa, será que isso é arrependimento?)

Mas chegou o momento da minha vida que a beleza comprada aos 17 anos me tirou um sonho, me deu só tristeza, agonia, sofrimento, sensação de incapacidade, me tirou o instinto, a ocitocina, o prazer.

Em um determinado período da gestação pode ser que a mulher comece a produzir leite, ou algum líquido, nem lembro mais, mas eu não produzi nada e foi neste momento que eu comecei a me questionar se eu teria problemas para amamentar, mas como isso não acontecia com toda mulher, eu não dei muita bola, ou fingi que não dei, afinal a minha gestação estava tão gostosa, acho que não queria preocupações.

Mas um dia na consulta com a parteira, após dizer que eu tinha feito uma cirurgia para redução de mamas, tive a coragem de perguntar se poderia influenciar na amamentação e então ela disse que sim, mas meu ego de mulher poderosa que ia parir lindamente de parto natural quis esconder esse possível problema.

Chegou o dia de parir. Foi tudo lindo, lindo mesmo, com dor e prazer, com coragem e com medo. Chegou a hora do nenê vir para o meu peito e eu não consigo me lembrar exatamente como foi, talvez não tenha sido como eu sonhava. Mas eu me lembro que em um determinado momento eu apertei meu mamilo e saiu alguma coisinha e eu achei que aquilo era sinal de que eu ia ter leite e pronto e fiquei feliz.
Enquanto meu marido passou os 5 dias de licença em casa comigo foi tudo lindo. O bebê mamava e eu tinha certeza que seria assim por longos meses, anos... Amamentar exclusivo em livre demanda até os 6 meses e continuar até quando ele quisesse com 2, 3, 4 anos... Afinal, parece que isso vem junto com o pacote de parto de humanizado.

Mas daí chegou o dia do marido ir trabalhar e eu toda poderosa ia ficar em casa sozinha, porque eu ia dar conta. Naquele dia deu 2 horas da tarde e nem comer eu havia comido, o bebê chorou muito, eu tentava dar mama, carinho e tudo mais e nada funcionava, até que uma amiga veio me salvar, fez comida para mim, me acalmou, acalmou o bebê e chegou o dia seguinte, primeira consulta com a pediatra e o bebê tinha perdido peso além da média recomendada.

Pela saúde dele saí com a recomendação de dar um pouquinho de fórmula no copinho. Meu marido comprou a fórmula e por dois dias eu olhei para ela, ela olhou para mim e eu a ignorei e cada vez que o bebê chorava, eu dava o peito e ele dormia, e chorava de novo, e peito... e choro... E foi confirmado na consulta com a pediatra (a qual fui cheia de esperança que ele tivesse ganho peso) que ele tinha perdido ainda mais. Doeu muito reconhecer que o meu leite não estava dando conta, mas a saúde do meu filho estava em jogo. Nem vou comentar da culpa que senti por não ter começado na fórmula antes, pois ele chorava de fome, ora bolas!

Naquele mesmo dia da consulta chamei uma consultora em amamentação que me ensinou a fazer a translactação, que é uma sondinha que se coloca junto ao mamilo e o leite vai por ali, assim o bebê não precisa ir para a mamadeira e a mãe pode continuar tendo a sensação de amamentar e também o bebê continuar sugando o leite do peito quando ele ainda existe ali, além de estimular a produção de leite e evitar que o bebê se engane com bicos artificiais e tornar difícil a pega posteriormente.

Eu tinha um pouco de leite e com a translactação eu achei que ia estimular e dali alguns dias eu poderia começar a ter mais leite. Eu anotava em um caderninho quanto ele tomava de fórmula e a minha esperança era que com o passar dos dias fosse diminuindo, pois isso indicaria que a minha produção de leite estaria aumentando, porém os números só aumentavam.

Mas eu continuava com a translactação e tudo o que mais possam imaginar para aumentar o leite. Comer alimento estimulantes, chás, óleo essencial, massagem, acupuntura e até promessa (vai vendo se eu não briguei com a Santa né, mas já nos acertamos). A cada coisinha nova que eu tentava dava uma aumentadinha, mas uma aumentadinha bem insignificante no meu caso. Agora eu imagino que para as mulheres que estão com as suas tetas inteironas o quanto tudo isso pode realmente ajudar, mas eu já não tinha tudo o que eu precisava, nem glândulas e nem ductos.

O bebê estava crescendo , ficando forte e nutrido e eu ficando cada vez mais cansada, desgastada e triste.
A translactação é um método muito interessante, porém para mim (para MIM, entendam) não deu certo.

Depois de um mês as mamadas duravam cerca de 2 horas e meia, a sondinha caia, eu derrubava o leite do potinho, o bebê chorava, até que teve uma noite que eu passei em claro com o bebê chorando e no dia seguinte estava destruída, então decidi ligar para a consultora e explicar como estava sendo a mamada com a translactação e ela disse que poderia estar entrando ar, pois o bebê pegava e soltava muitas vezes e ele poderia ter ficado com cólica.

Neste dia não resisti, chorei naquela última mamada com a sondinha, minha mãe olhou os meus olhos desconsolados e soltei um: "Eu não aguento mais" extremamente libertador e dolorido.

Liguei para a pediatra que me apoiou e indicou a mamadeira, ao menos se era para dar a bendita, que fosse a melhor, com bico melhor, etc.

Pedi para o meu marido comprar a recomendada, com bico assim e assado. Eu reclamei da mamadeira que ele tinha trazido, mas que era a certa, no fundo eu estava era brigando com a mamadeira e relutando, afinal, eu era super contra mamadeira, aquela vilã da infância. Mas seria ela o canal de alimentação sem sofrimento para o meu filho.

Sofrimento porque eu não estava tendo prazer em amamentar, estava sendo difícil para ele, porque eu deveria continuar com aquilo? Tive que engolir meu ego e orgulho e aceitar que aquela era minha realidade.

Naquela noite dormi muito bem, a mamada que durava mais de duas horas foi reduzida para 1 hora.

Mas mal sabia eu que a dor ainda continuaria. Eu dava o peito antes da mamadeira, ele ficava ali uns 15 minutos. E com o passar dos dias esse tempo foi reduzindo, reduzindo e a minha dor aumentando, aumentando. A cada mamada era uma despedida. Até que na hora da fome, ele não queria mais saber do meu peito, mas na hora do soninho ele pegava e fingi para mim mesma que aquilo me confortava.

Obviamente chegou o dia que nem na hora do soninho ele não quis mais saber, não me lembro quando foi a ultima vez que pude confortá-lo com meu peito (ou me confortar?).

Tentei a translactação novamente por duas vezes, afinal agora ele estava maiorzinho, sabia sugar melhor, mas cada vez que tentava eu me lembrava porque tinha parado, eu derrubava o leite, derrubava a sonda, e o bebê ali esperando em seu choro de fome eu ajeitar tudo. Eu ainda negava a mamadeira, eu ainda acreditava que do nada meu leite pudesse brotar dos ductos e glândulas que eu tinha deixado em um lixo cirúrgico aos 17 anos.

Tive que aceitar, e aceitei a mamadeira, a fórmula e todo aquele papo de graças à Deus existe uma alternativa. Eu sou grata, sim, eu sou grata, mas isso não ameniza a minha dor. O bebê está crescendo lindo e saudável? Sim, mas isso não ameniza a minha dor.

Eu, fêmea, que pari pela vagina, que gritei como uma loba para o bebê nascer, não fui nada disso em relação a amamentação, não fui a mãe que fornece o alimento de seu corpo para o filho, não fui a mamífera que sonhei ser.

Além de tudo isso, tive também que lidar com a vergonha. Sim, muita vergonha, enquanto o mundo luta pelo direito da mulher de amamentar em todo lugar, eu tinha vergonha de dar mamadeira em público. Eu saia tensa, rezando para ele não ficar com fome, principalmente nas consultas com a pediatra e nos grupos de pós-parto, pois todas as mães amamentavam no peito. O que elas pensariam ao me ver dando mamadeira? Que eu era "menas" mãe, claro! Aliás, esse termo me irrita profundamente.

Tentei (tento) amenizar a minha dor pensando em lados positivos: poder sair sem me preocupar com a próxima mamada, o pai pode ajudar com a amamentação, não sujar roupas com leite, etc, mas NADA disso ameniza a dor, aliás, só me traz mais culpa.

Eu agradeço todas as pessoas que me lançaram palavras de conforto e sei que foi com muito carinho, porém elas não diminuíram a minha dor, elas apenas me deram certeza que eu não sou a única mulher que não amamentou e que eu não estava sozinha.

Se eu passei por tudo isso (ainda passo), certamente não foi em vão. Infelizmente foi através dessa dor que eu aprendi a não julgar uma mãe e suas escolhas, aprendi a ceder, aprendi a dar uma baixada no orgulho e não contar com o ovo no lindo ânus da galinha.

Escrevo este texto após ter tido uma conversa com a minha homeopata que olhou a minha dor e deixou eu senti-la. A dor tá menor? Que nada, tá aqui me cutucando, mas ao mesmo tempo que dói, me sinto livre, livre porque me permito chorar e sentir.

Quero deixar claro que não tenho o objetivo de desencorajar qualquer mulher que precise recorrer à translactação (ou relactação, como é citada em algumas fontes), ou qualquer outros métodos que possam aumentar a produção de leite, eu só quis compartilhar esta experiência porque eu mesma só li relatos de sucesso, de mulheres que usaram o método por 6 meses, 1 ano, mulheres que em curto período conseguiram estimular a ponto de poder amamentar exclusivamente no peito. Mas esses relatos só me fizeram sentir pior, porque para elas deu muito certo, mas eles não me davam suporte emocional e só me fizeram questionar porque comigo não estava dando certo.


É para as mulheres que fracassaram na amamentação que eu escrevo. A palavra fracasso parece ser muito forte, mas é a antônima de sucesso. No mundo de hoje só o sucesso é aceitável e o fracasso só é aceitado quando ele leva ao sucesso, não é? No meu caso o meu fracasso não me levou a nenhum sucesso, afinal o sucesso seria se eu tivesse amamentando no peito.
É para mulheres que não choraram e que não se permitiram sentir a falta da boquinha no nenê sugando o peito, que não puderam sentir o prazer da ocitocina fluindo para produzir o leite, para mulheres que por alguma condição de saúde precisaram interromper a amamentação. É para vocês que eu digo que não estão sozinhas, que vocês devem se permitir essa dor e que é normal se sentir assim, não precisamos ser fortes.
Quem achar isso tudo um exagero, das três, uma: ou não é mãe e nunca precisou amamentar, ou é mãe e teve sucesso na amamentação, ou tem uma dorzinha escondida aí.

Faz 5 meses que meu filho nasceu, quando eu aperto o peito ainda saem algumas gotinhas que eu deixo cair na banheira do banho, às vezes dentro de uma mamadeirinha, pois eu nunca vou me esquecer das palavras da pediatra que exemplificou o caso de uma outra mãe que chamava essas gotinhas de amor, então mesclo essas gotas de amor, com o mesmo amor que dou a mama.

Escrevo para você meu filho, que passa por tudo isso junto comigo, que vê minhas lágrimas e sente minha frustração. Um dia quero poder te contar tudo isso e te abraçar muito forte, peito com peito, pois talvez não tenha leite meu peito, mas tem um coração, que bate de amor por ti.

Namaste.

terça-feira, 17 de setembro de 2013

RELATO DE PARTO - NASCIMENTO MIKAEL

É muito comum as mulheres que passam pela experiência do parto humanizado fazer um relato de parto. Aqui está o meu, que tem como objetivo me auxiliar a recordar este momento tão especial, mas principalmente servir de inspiração para outras mulheres, pois os relatos me ajudaram a desenhar, idealizar, planejar e protagonizar o meu parto humanizado. Compartilhem com quem quiser!

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Acho que esse relato não começa no dia 3 de julho de 2013, começa muito antes, ainda quando eu decidi fazer um curso de massagem para poder ter contato com pessoas e fazer algo por elas, não demorou para eu me interessar mais no cuidado de outro Ser e fui fazer curso de Reiki, que me trouxe também o caminho espiritual. Com o Reiki percebi que o que eu queria fazer da vida era mesmo cuidar de pessoas, como uma profissão, então me formei como terapeuta corporal holística na Humaniversidade, neste momento passei a ter uma visão diferente do Ser Humano e entender que ele carrega no corpo não somente dores, mas muitos desequilíbrios emocionais, psicológicos e espirituais, tudo isso por conta de traumas, medos, preocupações, etc.

Passei a ver o ser humano como um ser sagrado. Durante a aula de massagem indiana, aprendi que a mulher era o portal da vida, um ser totalmente sagrado e achei uma bela forma de pensar e de se viver.

Nesta jornada com terapias atendi algumas gestantes e era algo indescritível cuidar de uma grávida, era pleno e especial, mas chegava o dia que eu não mais as atendia, pois chegava o nenê.
Em algum e-mail recebi a informação sobre curso de Doula, que nunca tinha ouvido falar e pesquisei mais e aprendi que era uma acompanhante no dia do parto (pré e pós também) e achei aquilo lindo e vi a possibilidade de poder continuar com as gestantes, mas nunca conseguia fazer o curso, mas o importante eu já sabia: O que era uma Doula.

Uma linda teia começou a ser tecida. Nos encontros de Reiki com meus amigos de caminhada na Luz, muitos deles sentiam a necessidade de cuidar do meu ventre, eu me espantei a primeira vez, achei até que já poderia estar grávida, porém este cuidado durou acho que por volta de um ano, sim, um ano pelo menos sendo preparada para receber o grande presente da minha vida.

E a teia foi se formando, as coisas foram acontecendo e tudo foi se interligando. Em uma conversa informal com uma amiga, a Déia, perguntei para ela se sabia quem vendia coletores menstruais e ela me indicou a Renata, troquei e-mails com ela, adicionei no facebook e vi que ela era Doula, olha que legal! Sempre via as postagens dela sobre parto humanizado e achei muito, muito maravilhoso. E como terapeuta, eu sabia que muitos dos nossos traumas eram decorrentes da gestação, parto e recepção
pós-parto e compreendi que o parto humanizado era uma "pré-cura" para os nossos traumas, quantos problemas teríamos poupado com um nascimento adequado.

Ter certeza mesmo que se um dia eu tivesse um filho o parto seria humanizado, foi quando assisti o vídeo do parto da Sabrina. O Vinicius, meu marido, assistiu primeiro e comentou comigo e eu assisti. Como nós os conhecíamos (a Sabrina e o Fernando), eu achei aquilo extremamente emocionante e achei incrível que esse tipo de parto não era só para famosos. Aquilo me tocou profundamente.

Sabendo de tudo isso, o que faltava mesmo era o neném chegar, o qual ainda não pensávamos muito.

Passamos o ano de 2012 planejando nossa viagem aos Estados Unidos, conhecer o Yosemite, Disney, Las Vegas, visitar amigos em Ohio, viagem grande marcada para dezembro.
Nessa de planejar a viagem eu até pensei em não ter filhos, iria conversar com o meu marido sobre isso, pois achei que queria uma vida bem livre. Esse pensamento foi por volta de umas duas semanas da grande notícia, acho que Deus ouviu meus pensamentos e decidiu agilizar a chegada do Mikael, antes que fosse tarde demais, mas no fundo acho que era isso que eu queria, porque eu sabia dos "riscos" que estava correndo quando decidi dar uma escapadinha na prevenção.

Foi uma surpresa grande a gravidez, ainda mais às vésperas de uma viagem, a ficha demorou para cair e curtir mesmo todo o momento foi quando fiquei sabendo que era um menino.

Desde o momento que soube que estava grávida eu sabia que queria o parto humanizado. Como eu não ia há anos em um ginecologista, fui poupada de cair nas mãos de alguém que pudesse me enganar, pois pedi indicação de obstetra humanizada para a Renata, depois da consulta decidi que seria parto humanizado hospitalar, pois era mais seguro. E eu amei o pré-natal humanizado, sem toques, com muita conversa e respeito.

Vital foi participar dos grupos de de apoio junto com o Vinicius, o vínculo e o Samaúma. Lá me sentia em casa, aprendia e ia compreendendo que tudo ia muito além de apenas um parto humanizado, mas sim um resgate do meu Ser, a minha porção bicho e mamífera.

Ao longo dos meses depois de ler inúmeros relatos, me emocionar com diversos vídeos, a vontade de um parto domiciliar foi crescendo, crescendo e crescendo, mas eu tinha medo, medo de quê? O medo eu descobri durante uma vivência no AnimaSoma, foi de arrepiar, pois percebi que o medo era do que as pessoas falariam caso algo desse errado e o tanto que eu poderia me culpar com isso. Conhecendo esse medo eu superei e entrei em estado de entrega, pois eu sabia que se algo pudesse acontecer, seria no hospital ou em casa, eu estava cheia de informação baseada em evidências e sabia que o parto domiciliar era mais seguro. E não combinava eu ir para um hospital...
eu não gosto de hospital, morro de medo da infecção hospitalar, do ambiente de doença e morte, aliás, nunca deveriam ter cogitado unir o nascimento a um ambiente hospitalar, deveria existir somente casa de parto ou só maternidade.

Mas o ponto chave para saber que eu queria o parto domiciliar mesmo foi quando assistimos o vídeo do nascimento do Théo. Foi um momento muito espiritualizado, me emocionei e entendi que eu queria não somente um parto humanizado, mas também espiritual e eu não conseguiria isso em um hospital, acho que foi por volta do quinto ou sexto mês que optamos pelo parto em casa, corre então escolher a equipe. Como o parto do Théo que me motivou, eu fui em busca das mesmas pessoas que fizeram parte, mas até chegar nelas conheci outras profissionais e o mais doido do parto humanizado é que dá vontade de chamar todo mundo para o dia do parto, porque são profissionais encantadoras.

Tudo certo, decidido, era só esperar e ir se planejando, comprar as coisas necessárias para o dia do parto. Eu muito devagar fui comprando aos poucos. Estava bem tranquila, curtindo a barriga, o momento. Me lembro que fizemos a sessão de fotos de gestante no sábado dia 29 de junho e quase que eu fico sem as fotos, pois dali 5 dias Mikael chegaria.

Na noite do dia 1 de julho saiu um negocinho diferente e cogitei que era o tampão, mas como o aspecto era diferente do que eu vi em fotos na internet, pensei que pudesse ser algum machucado por conta do uso do Epi-No, que no dia anterior eu tinha aumentado as infladas, entrei em um processo de negação ferrado, não queria acreditar por nada que estava chegando a hora, afinal, nem 37 semanas o Mikael tinha completado ainda.

Na terça-feira de manhã coliquinhas e eu pensei, ah, deve ser pródromo... e o tampão saindo freneticamente. Mas em todo caso, passei o dia tranquilinha em casa sem fazer nada, só descansando, mas a única coisa que quis fazer foram as compressas para o pós parto, fui dormir bem tarde por conta disso.
Liguei para a Renata que orientou a ficar observando, eu sabia que o tampão poderia começar a sair muitos dias antes do parto, então eu jurava que ia demorar ainda no mínimo uma semana.

O meu marido achou melhor trabalhar de casa no dia seguinte e se preparou para tal, ele sabia, ele tinha certeza, eu que não.

De madrugada comecei a sentir um pouco mais de dores, mais ritmadas, ah, mas deve ser pródromo (olha a negação). 4 horas da manhã o bicho começou a pegar um pouco mais e avisei o Vi, mas no processo de negação eu continuei deitada e sentindo as contrações até que umas 6 da manhã (eu acho, e agora tudo o que é relacionado a hora é baseado em achismo) liguei pra Renata que me orientou a ir pro banho (e eu já tinha tomado um banho) e observar e qualquer coisa ligar de volta.


Aí começamos a contare estava com ritmo, mas eu ainda achava que era pródromo. Liguei para a Ana Cris, que me informou que por conta da idade gestacional não poderia fazer em casa e me disse para ligar pra Mariana, neste momento eu tinha duas opções, ou eu ficava chateada e triste pelo meu sonho de ter um parto em casa não se realizar ou aceitar que era o melhor para mim e o Mikael, claro escolhi a segunda opção, tive que arrumar forças para pensar só no lado bom. Acho que liguei para a Mariana, depois pra Renata já pedindo para ela vir pra casa.

E então comecei a curtir as contrações e esperar a Renata e Mariana chegarem em casa. O computador estava na mesinha da cozinha e então entre uma contração e outra me lembrei que precisava ouvir as músicas que eu havia preparado para o parto, coloquei o Mantra de Sarasvati e ele me acompanhou neste momento. Esse mantra ouvi muito nas aulas de Yoga com a Paula e foi extremamente especial ter contrações com esse mantra, ali na cozinha, apoiada na cadeira vermelha, sentindo o poder da Mãe Divina me amparando.

A Renata chegou, UFA, que alívio, e ela parecia uma visita, serena e calma, a primeira visita na minha vida que eu recebi peladona, foi muito legal e descontraído, ela tomou café, agradou os gatos, como seria bom continuar tudo aquilo em casa.

Chegou então a Mariana e me aliviei ainda mais, achei que ela fosse confirmar que eu estava tendo pródromos, hahaha... Ela me pediu para deitar, pois durante uma contração gostaria de ver minha dilatação, ok, vamos deitar, aaaffff, contração deitada é UÓ! Ela fez o toque e me perguntou quanto eu achava que tinha dilatado e conversei na minha cabeça: "Deve ser uns dois, ah, magina, não deve ser é nada, não tô em trabalho de parto, nem tá doendo tanto assim" e eu falei, NADA, ela só olhou para mim e disse (eu acho): "8 Egle". Neste momento a ocitocina invadiu todo meu corpo, porque eu gargalhei em gratidão, não acreditava que tinha dilatado 8 cm tão
tranquilamente. Sim, doeu, mas eu não tive essa percepção. Então era isso, Mikael estava chegando mesmo.

OK, 8 centímetros, é hora de ir para o hospital. Dou uma dica, jamais façam a mala do hospital em trabalho de parto, hahaha. Hoje eu me lembro e foi engraçado. Para mim deixar a mala de hospital pronta era como me preparar para o um parto hospitalar e não um domiciliar, então nem tinha pensado nisso, negava. Aliás, foi terrível para mim deixar a minha casa, eu sabia que eu voltaria outra e não imaginaria como seria.

Coloquei o primeiro vestido mais fácil que vi e fomos para o hospital e eu rezando para ter poucas ou nenhuma contração no carro (ahn hã né), mas de fato as contrações no carro foram bem mais leves do que em casa, deu certo a reza, mas isso não significa que não foi desagradável. Me lembro que em um certo momento eu perguntei pra Renata quando eu ia entrar na partolândia e ela disse que já deveria estar entrando... No carro a vontade de rir veio, eu ri, ocitocina? Partolândia? Tudo isso junto.

Chegamos no hospital, péssimo ter que passar pela recepção cheio de gente e você lá com contração querendo dar umas gemidas. Vinicius tinha que cuidar da parte burocrática e eu desesperada porque ia pro quarto sem ele e eu jurava que o Mikael já ia nascer, devia ser próximo do meio dia, sei lá.

Fui pro quarto, primeira coisa foi arrancar o vestido e sei lá a ordem de tudo o que aconteceu. Mas eu queria a piscina, como eu queria a piscina que eu tinha deixado para comprar no sábado seguinte, hehe. A bola não me serviu, não gostei, para mim o melhor foi mesmo ter contrações apoiada na cama e no chuveiro.


Consegui ancorar a sacralidade deste momento, comecei a me sentir plena, feliz e amparada pela hoste celestial, as músicas tocando, aquele dourado do Sol iluminando o quarto, o ventinho feito pela Renata, que eu achava que estava vindo da janela. Entre uma contração e outra eu conseguia ouvir as músicas que eu havia escolhido, me lembrava do que elas representavam para mim, principalmente as que os meus amigos e irmãos na luz me enviaram, as que tocaram no meu casamento, a música do grupo
LAMAT, nossa, que especial que foi. Dancei, ri, flutuei. É incrível que a dor vem e logo em seguida vem o prazer, vem a serenidade, a paz. Doeu, doeu sim, mas só sei que doeu porque eu sei, mas não porque eu me lembre da dor.

PLOCT, a bolsa estourou e me orientaram a sentir o cheiro, aliás, cheiro de parto e nascimento é tudo de bom!

Me lembro das palavras de coragem da Mariana quando foi percebido que eu estava com MEDO (sim, rolou MEDO). Já era hora do expulsivo, mas eu travava, por conta desse medo.


Mariana me perguntou do que eu estava com medo e disse que era de morrer, depois disse que era da dor, mas depois que o Mikael nasceu eu refleti bem e no fundo, o medo era de que ele não seria mais só meu e estava chegando o momento de dividi-lo com o mundo, e tinha também o medo de toda a mudança, de que a Egle estava morrendo, para nascer uma nova Egle, totalmente diferente e que eu não conhecia, eu daria conta de ser mãe?

Lembro-me da Otília, que receberia meu nenê com todo carinho. Ela trouxe o olho azul dela, que encarou os meus olhos temerosos e me trouxe paz.

Estava lá eu naquela luta com meus medos e a vontade do Mikael nascer quando a minha amiga Val chegou, aquele momento foi único, pois embora eu estivesse me sentindo em um momento especial e sagrado, eu precisava ancorar mais as energias superiores e a Val chegou trazendo isso tudo, a presença dos Mestres e do Reiki. Ela me perguntou o que eu queria que ela fizesse e eu só respondi: REIKI.


E toda a equipe estava lá, completa: Mariana, Renata, Otília, meu marido Vinicius e a Val. A minha tribo, que me ajudaria naquele momento tão sublime e obscuro ao mesmo tempo.

Percebi que eu estava "enrolando" (negando, com medo) no expulsivo e que eu precisava ir até o fim, continuar com a força, para que o Mikael pudesse vir. Os gritos vinham, não eram de dor, eram de força, sabia que precisava do chakra da garganta para ajudar no chakra básico. E eu mudava de posição, cócoras, de pé, na cama sendo ajudada pela Renata que me dava um tecido para eu puxar.

Jamais vou me esquecer de um dos momentos mais especiais, entre uma contração e outra, na cama tive um momento que senti um pulsar extremamente prazeroso, vontade de rir, e eu pulsei, o chakra básico pulsava, era aquilo o tal do parto orgásmico? Me lembro que neste momento pediram para eu descer da cama para ficar de cócoras e eu disse que esperasse um pouco, pois queria curtir aquela sensação.

Eu sabia que o Mikael estava ficando cansado e eu PRECISAVA do grande puxo, pelo bem dele, então busquei as minhas forças, levei a cor vermelha para o chakra básico e a luz branca entrando pelo coronário (assim como aprendi na meditação na aula de Yoga), me levantei e com o grito primal eu acocorei e senti então a cabecinha do meu anjo guerreiro passando pelo círculo de fogo.


O Vinicius veio na minha frente, do meu lado estavam Renata e Val.

Em outro puxo bem mais leve saiu o corpinho do meu pequeno e que foi recebido carinhosamente pelo pai, que logo me entregou, para que pudéssemos então nos conhecer às 16:05.


Não sei descrever o que rolou neste momento, acho que eu o segurei ainda sem olhar, apenas agradecendo, não me lembro dele chorando, me lembro sim quando eu o olhei, quando coloquei minha mão em sua cabecinha quente e cheia de vérnix, ah! O vérnix, eu preciso sentir o cheiro disso, sublime!!! O melhor cheiro do mundo. O olhar, o imprinting, o amor. Me senti uma leoa com a cria, o tempo parou, o mundo não existia, só existia eu e o Mikael.


Ficamos ali, nos curtindo e chegou o momento de me levantar para ir para a cama, com ajuda da equipe me levantei com ele nos meus braços ficamos ali, toquei o cordão e o senti pulsar, foi tão gostoso sentir o nosso elo que ainda pulsava o sangue ali restante para o corpinho do Mikael.

Ele ali no meu colo gostosinho, eu ainda cheia de ocitocina senti uma coisinha e foi a hora de parir a placenta. Ela saiu rapidinho, sem dor, coisinha mais linda, a Mariana me mostrou e eu achei pequenininha.

Então um momento que foi difícil para mim, cortar o cordão, eu sabia que aquele momento representaria o corte definitivo dos laços corporais entre eu e Mikael. Eu expliquei para o Mikael o que estava acontecendo e disse que por mais que o cordão estivesse sendo cortado, o cordão de Luz que nos unia permaneceria para sempre, chorei um pouco, me contive para não me debulhar em lágrimas. Então Vinicius cortou o cordão, que já não pulsava mais.

Mikael carinhosamente foi acolhido pela Otília para os procedimentos necessários: pesar e colocar roupinha... sem banho, sem colírio, sem aspiração, apenas amor.


Enquanto isso a Mariana me dava uns pontinhos na laceraçãozinha e isso foi mais desagradável do que parir. Mas eu ainda estava em outro mundo, dificuldade para falar, tremedeira, sons distorcidos, uma coisa muito maluca.

Era hora de ir para o quarto, Mikael foi colocado no meio das minhas pernas e me lembro do calorzinho dele, que corpo quentinho, gostoso.

Não tive o parto domiciliar, acho que tive que passar por isso no hospital, talvez se eu estivesse em casa os medos seriam ainda maiores, eu ficaria encanada com tudo, em controlar o andamento de tudo, ver se a equipe estava se alimentando, se ninguém deixaria os meus gatos fugirem. Talvez eu não tivesse conseguido me entregar.

Ali no hospital, ainda de noite, o silêncio do quarto foi quebrado por gemidos vindo do corredor, gemidos prazerosos e alguém gritando, corre que vai nascer, traz lençol e logo em seguida um forte grito e um chorinho. Eu ali vibrava por aquela mulher que pariu em estilo vapt-vupt, chorei junto com ela, sem nos vermos, sem eu saber quem ela era, sem ela saber que eu estava ali, me senti conectada e isso me remeteu a todo o momento que há poucas horas eu havia vivido.


Emano minha gratidão a Deus, que me permitiu entrar em contato com pessoas e conhecimentos tão maravilhosos. Emano minha gratidão aos meus pais e sogros, sem eles eu nada seria. Emano minha gratidão ao meu marido que mergulhou fundo comigo sem duvidar em nenhum momento do meu poder de parir, que me acompanhou nos encontros e que acariciou a minha barriga. Emano minha gratidão à equipe, Val, Mariana, Otília e Renata, bem como Kelly Stein que foi chamada de última hora e chegou chegando, registrando com suas lentes este momento tão especial. Agradeço aos grupos Vínculo e Samaúma. Agradeço a toda mulher que compartilhou
seu relato de parto, vídeo de parto, fotos e me ajudaram a buscar a inspiração e a vontade de ser a protagonista do meu parto. Agradeço a toda galera do Anima que me ajudou a ter um corpo mais vibrante e pulsante com tanto amor e carinho.
Agradeço a Arcanjo Miguel, o grande protetor de toda minha vida e a Bem amada Mãe Maria que com sua presença me ajudou a confiar no meu sagrado poder feminino.
Agradeço ao Reiki, a terapia que me acompanha e me fortalece sempre. Agradeço aos amigos e todas as orações e envios de energia. Agradeço minha família que nunca contestou meu parto humanizado.

Agradeço ao meu filhinho Mikael, que foi um guerreiro e aguentou firme o trabalho de parto e chegou cheio de vida, amor, LUZ!

E que com este relato, outras mulheres possam reconhecer o seu potencial de parir ser a protagonista deste momento tão especial e único.

Namaste _/\_

--
Egle Prema Shunyatta Prem (que teve seu parto humanizado, ativo, natural e orgásmico!)

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Inicio das atividades

É com muita gratidão que retorno meu trabalho após férias muito bem aproveitadas.

Aproveito para desejar que todos possam desfrutar de um ano cheio de saúde, paz, alegria, amor e Luz.

Tenho novidades, estou atendendo em um novo local:
Rua Castro Alves, 298 - Taquaral - Campinas/SP (se possível marcar com pelo menos 1 dia de antecedência.

Os atendimentos residenciais, conforme o caso, continuam.

Namaste.