segunda-feira, 21 de novembro de 2016

Quem cuida de quem cuida?



Cuidar de alguém é uma responsabilidade imensa, ainda mais se for um bebê. Bebês são seres totalmente dependentes, se não houver alguém que possa cuidar dele, ele não sobrevive. Um bebê é cuidado por 24 horas, por meses, anos, crianças precisam ser cuidadas.

Raramente um bebê não será cuidado por sua mãe assim que nascer, caberá à mãe alimentar, trocar, dar banho, verificar condições vitais, etc. Algumas dessas tarefas podem ser divididas com alguém, seja o pai, parente, cuidadora, mas a maior parte do "trabalho" fica realmente com a mãe.

Uma mulher dá seu próprio lugar, para que o lugar de uma outra pessoa possa ser construído. Ela não segue mais os seus próprios horários, nem suas próprias vontades. Ela cuida integralmente daquele pequeno Ser. Mas e essa mãe? Quem olha para ela? Quem cuida dela? Que pergunta o que ELA precisa? Quem oferece uma massagem , um chá, um colo?

Durante a gestação é muito importante organizar quem poderá auxiliar com a casa, comida, cuidados com o bebê ou outras tarefas pertinentes ao nascimento do bebê, mas e a organização de quem cuidará dessa mãe? Ela precisará comer, sim! Ela precisará de auxilio com a casa, sim! Mas quem cuidará DELA? Quem enxugará suas lágrimas quando ela não estiver mais suportando a responsabilidade de cuidar de um bebê? Quem irá levar um delicioso brigadeiro ao invés de uma sopa? Quem irá colocar a mão em uma dor que ela estiver passando? Ou apenas escutar as angústias e frustrações sem julgar?


Você já imaginou quem é essa pessoa que poderá fazer isso por você? Não existe ninguém? Nenhum parente perto, nenhuma amiga disponível? Recorra a um grupo de pós-parto, surgem amizades maravilhosas nesses grupos.
Conheça uma doula pós-parto, terapeuta, psicóloga, reserve fundos para esses momentos se for o caso, se não precisar de nada disso, invista em uma massagem, vai te ajudar.

Nenhuma dessas alternativas é viável? Bata na porta da vizinha, quem sabe lá existe alguém que tem tudo de melhor para oferecer, mas também não encontrou para quem dar? Não vamos nos prender dentro de casa aguardando a salvação, o puerpério pode ser um excelente momento de olhar novas perspectivas, criar novas amizades, ele não precisa ser solitário.

Fale, não guarde para si, expresse-se, vai ser importante para manter um bom nível de sanidade para cuidar do bebê. Permita-se encontrar alguém que pode cuidar de você também.


segunda-feira, 17 de outubro de 2016

Criação e opinião

Criar filhe não é fácil, são tantas formas possíveis de se realizar esta tarefa. Podemos utilizar de leituras, dicas de outras famílias, textos, psicólogos, intuição, etc para nos auxiliar e encontramos um jeito que seja satisfatório.
Mas não importa como for, a sua forma nunca vai estar certa se não for igual a de quem está por perto. Dá para captar os julgamentos no ar. Dá para captar as comparações no ar. Dá para sentir quando acham que você não sabe nada e sutilmente tentam te ensinar o jeito certo, porque aquela forma que você escolheu não faz a criança comer toda a comida do prato, aquela forma não faz ela sair logo da fralda, aquela forma não faz com que ela se cure da noite para o dia, aquela forma não faz com que ela durma a noite inteira no quarto dela, aquela forma na faz com que ela pare de pedir colo, aquela forma não faz com que ela pare de chorar instantâneamente.
E se a criar precisar ficar aos cuidados dos outros, sempre irão enaltecer como a criança faz coisas lindas e perfeitas enquanto você não está.
Mas calma, respire fundo! Confie em si, volte para casa e continue a seguir o coração e não, duvide do seu potencial de cuidar de seu filhe.
Para você, você está certa e eles errados! Para eles, você está errada e eles certos, é uma conta que nunca vai fechar, mas que no fim, por alguma magia matemática, dá certo!

domingo, 9 de outubro de 2016

Maternidade fora da caixa

Ser mãe é um desafio muito grande, desde a escolha da via de nascimento até a forma de cuidar e educar o bebê, criança, adolescente... Principalmente se você optar por formas "não convencionais".

Optar pelo parto normal já faz com que ganhemos olhares tortos e uma grande desconfiança das pessoas, pode-se até mesmo criar uma torcida para que você termine em uma cesárea.

O bebê nasce e então você opta por não receber visitas nas primeiras semanas ou carregar no sling, então você é egoísta.

Tá dando peito? Está sendo difícil? Dê mamadeira, é melhor que sofrer e o bebê vai dormir a noite toda. Amamenta depois dos 6 meses, 1, 2, 3 anos? Pra quê? O leite vira água, criança fica mal acostumada, não come, que horror esse peito de fora, é sem vergonhice!

Opte por não dar doces, porcarias ou refrigerante. Caos instaurado! A criança vira uma coitadinha que vai morrer de lombriga. Ah claro, você se torna a mãe chata (aliás, se tornou faz tempo).

Desfralde natural? Com 2 anos dicas e perguntas começam a eclodir de todos os lados, dependendo da escola, vem a pressão deles. Ah, use fraldas de pano e se torne a louca que prefere lavar fralda a fazer qualquer outra coisa e gastar toda água do mundo.

Escola! Com 1 ano ele já precisa socializar, tem que conviver com outras crianças, se optar por respeitar o tempo da criança em que a alfabetização é recomendada iniciar por volta de 7 anos, o seu filho vai ser atrasado e " burro".

Cama compartilhada? Pronto, você não transa! E a criança vai dormir pra sempre junto até 40 anos de idade.

No terrible two, quando você optar por ter paciência e muito diálogo, ninguém vai entender porque você não dá umas palmadas ou um calmante.

Acho que nem preciso falar sobre o observar antes de medicar, ou optar por homeopatia e técnicas alternativas.

Olhar para os outros nos distância de seguir à diante com nossas crenças pessoais em relação ao maternar.
É preciso encontrar rede de apoio que pense como você quando a pressão for muito grande, porque certamente em algum momento vai vir a dúvida sobre sua capacidade de maternar.

O mundo está muito plástico e encaixotado, viver fora dessa caixa requer muita informação e empoderamento.

Mas tenha certeza que vai valer à pena, você sairá mais fortalecida em sua própria vida pessoal, não vai aceitar conceitos prontos facilmente, vai se tornar mais questionadora e exigente.

Maternar conscientemente seguindo seus instintos e crenças pode ser um grande desafio, mas que vai valer à pena e será muito recompensador.

Quando pensar em desistir, faça um mergulho no seu interior e tome uma decisão conscientemente, nem sempre vamos conseguir levar todas as idealizações em frente, mas se algo não puder ser como o planejado, que venha de um lugar verdadeiro e não para ceder à pressão da sociedade. Aja de acordo com seus limites, se respeitando e respeitando o bebê/criança. Faz parte do empoderamento materno escolhas conscientes, seja para sair da caixa ou ficar dentro dela.

Que seja leve!

Por Egle Prema Shunyatta
Doula e Terapeuta Holística.


segunda-feira, 3 de outubro de 2016

Desmame e o corpo!

Iniciar o processo de amamentação é algo natural e espontâneo, esperado! O bebê nasce e então ele mama.
Ao longo de meses ou anos a mãe cede seu corpo para servir de alimento para o bebê, vira um restaurante ambulante. Muitas sentem imenso prazer e se entregam ao processo.

Mas o desmame um dia chega, seja liderado pela criança ou pela mãe, talvez até os dois juntos.

Quando o bebê nasce o corpo entende o que tem que fazer, produzir leite.

E  quando a criança desmama? O que será que o corpo entende? Como ele responde ao parar de produzir leite? Como a mente responde a este momento?

Desmamar é um marco na vida de uma mãe, pode ser suave, desejado. Pode ser abrupto e difícil.

O corpo irá responder de alguma forma os sentimentos em relação a este processo, talvez ele irá alertar para algum aspecto oculto.

Em 10 dias realizei dois atendimentos em mães com torcicolo, seria algo corriqueiro salvo pelo fato de que ambas haviam desmamado há alguns dias.

O que seria este sinal? Um convite para se olhar e entender essas mensagens ocultas?
Um convite para esse reencontro com o próprio corpo?

Que sentimentos o desmame gera? Culpa, ansiedade, alívio?

Olhar para os sintomas no corpo nos leva a conhecer o nosso interior e a lidar melhor com a nossa mente e a  enfrentar as mudanças de forma mais branda e com aceitação.

Hoje convido-as a olhar para este momento como desmame não só da criança, mas também seu, um momento de se reconhecer, se reencontrar e se permitir sentir a retomada do corpo para si e fazer o possível para que essa transição seja leve e consciente.

Por Egle Prema Shunyatta.
Doula e Terapeuta Corporal Holística.

terça-feira, 20 de setembro de 2016

Ser mãe: existe a parte boa!

Hoje fui acordada de forma tão linda, com um som que eu poderia comparar com o toque de harpas angelicais dos Reinos mais distantes onde fadas e borboletas voam tilintantes e livres, flores exalam aromas doces e refrescantes e o vento sopra vida.

Esse som Celestial foi um verdadeiro " Eu te amo mamãe ", dito pelos labios do meu filho de três anos.

Quando meu filho tinha um pouco menos de um ano, estávamos no consultório da pediatra e lá estava uma mãe com sua filha de um ano e dois meses, espontaneamente a menina acariciou o rosto da mãe e eu até exclamei: " Nossa! Essa fase chega mesmo!".

Então os meses foram se passando e eu aguardava ansiosamente pelo dia que ganharia um carinho espontâneo, a fala veio e aguardei o momento em que ouviria um " eu te amo" espontâneo. E nada!

Então ele começou a devolver os "eu te amo" que eu falava para ele e foi lindo, sempre muito gostoso, já fazia meu coração vibrar.

Mas somente após os três anos de idade ele começou a demonstrar carinho e "eu te amo" espontaneamente. Há três dias ouvi o primeiro " mamãe você está bonita".

Nesses momentos todas as adversidades somem, todo sono, todo cansaço ficam pequenos. Toda dúvida e culpa desaparecem e o tempo pára!

É amor genuíno, que não é ensinado ou forçado, é aquele tal amor incondicional, amor que não pára de aumentar.

Mães puérperas, esse dia chega, para umas antes, para outras depois, mas ele chega e então é possível sentir e perceber o quanto realmente vale à pena toda doação, entrega, abnegação para cuidar de um Ser que integrará a nossa sociedade e que esse ser tem amor dentro si e é demonstrado de formas sutis e espontâneas.

Tenham paciência e consciência que o esforço vai ser devolvido e multiplicado pelo infinito.

Por Egle Prema Shunyatta, mãe, Doula e Terapeuta Holística

segunda-feira, 12 de setembro de 2016

O parto é fácil, difícil é o que vem depois.



É muito comum quem costuma ir em grupos de apoio ao parto ouvir essa frase vez ou outra: "O parto é fácil, difícil é o que vem depois".
Mas por que ouvimos tanto essa frase sendo dita por outras mães? Como que é possível que o tão temido e desconhecido parto possa ser "fácil" quando comparado à maternidade? Como é possível que seja tão difícil cuidar de um bebê?

A experiência de parto é única e inigualável para mulher, assim como o maternar, momento em que a mulher irá reconhecer que sua vida realmente mudou.
O resultado ao final do parto é o encontro com um bebezinho lindo, com um cheirinho especial e olhar profundo, o resultado do início da maternidade é um bebê que chora, faz coco, mama, não dorme. O resultado do início da maternidade é o reconhecimento de que a rotina mudou, a vida mudou e não tem mais volta.

Mas por que é tão difícil? Será que é mesmo tudo isso que falam? Eu não vou dar conta?

Sim, vai dar conta, por mais difícil que seja, por maior que seja quantidade de lágrimas, damos conta, talvez seja necessário reconhecer em algum momento que sozinha seja difícil e outras pessoas precisarão entrar na jogada e talvez esse reconhecimento possa abalar nossas estruturas. Como diz o provérbio africano "É preciso uma aldeia inteira para cuidar de uma criança".
Nossa sociedade atualmente tem quantidade de pessoas reduzidas em casa, formamos nossa família mais solitariamente, nossas casas são menores e as portas fechadas. Na época de nossas avós, sempre tinha uma tia, uma prima, irmã morando junto, as portas eram abertas e todos os vizinhos se conheciam, se ajudavam. O perfil familiar mudou drasticamente nas últimas décadas, menos filhos, somente o núcleo principal vivendo em uma casa/apartamento (pai, mãe, filhos). Quando acaba a farinha, corremos ao mercado ao invés do vizinho de porta.
A opção por uma forma de criar filhos de maneira "alternativa" também dificulta um pouco as coisas. Hoje temos uma criação plástica, com alimentação pobre, falta de incentivo à amamentação, industrialização e adultilização precoces de nossas crianças, querer criar bebês e crianças fora deste contexto se torna um verdadeiro "remar contra a maré", o que faz com que essa criação possa ser algo mais solitário para a família que opta por esses caminhos. Se eu escolher amamentar em livre demanda, ter ajuda de um parente que me incentiva a comprar uma mamadeira e diz que o leite é fraco, receber ajuda deste parente pode se tornar um verdadeiro caos, levando a mãe a optar por cuidar do bebê sozinha.
Uma mãe que acabou de parir, precisa de acolhimento, apoio e compreensão. Essa mãe não vai mais chegar em casa após um dia exaustivo e entrar em um banho gostoso e se acomodar no sofá com um chá quentinho, essa mãe vai sim chegar em casa e se deparar com um bebê chorando, fralda para trocar, pilhas de louça para cuidar e um livro não terminado na cabeceira da cama, aquele que ela parou na metade um dia antes do bebê nascer.
O bebê demanda muito, ele PRECISA da mãe para viver, sem o leite, o carinho e a percepção de como ele está, este bebê não continua com sua vida e essa dedicação faz com que a mulher se torne uma outra pessoa além do que ela conhecia antes, ela se torna a peça chave para que a vida continue, e talvez essa responsabilidade possa ter um peso muito grande para algumas mulheres, que passam a vivenciar essa experiência  tão intensamente que esquecem de se olhar no espelho.

Mas calma, é possível continuar se olhando, é importante não esquecer que dentro dessa fábrica ambulante de leite existe uma mulher que carrega toda uma história de vida, uma mulher que foi capaz de trazer uma criança ao mundo e será capaz de cuidar desse Ser.

O parto são algumas horas, a maternidade é para vida toda. O parto dói, a maternidade também irá doer muitas vezes, mas assim como o parto, tem amor, tem superação, tem VIDA!

É difícil, mas vale cada segundo, a criança vai crescer e um dia espontaneamente vai falar: "Eu te amo", vai tocar sua face e vai te olhar. Neste olhar toda a dificuldade irá deixar de existir por um momento, o momento do reconhecimento, do amor verdadeiramente incondicional e vai valer à pena, todas as lágrimas irão valer a pena. Você vai se ver neste olhar!

E muito provavelmente você vai desejar outro parto, outra criança!





Fonte Imagem:http://www.dailymail.co.uk/femail/article-3237618/I-raw-Mother-posts-devastating-image-sobbing-cradling-newborn-baby-shed-light-realities-postpartum-depression.html