quinta-feira, 5 de novembro de 2015

Relato de Parto - Lícia - nascimento do Teo

Compartilho com vocês o relato de parto de uma mulher maravilhosa, que sabia que seu filho Teo poderia vir ao mundo da.forma.mais natural possível e fez tudo o que estava a seu alcance para que fosse assim.
Agradeço a oportunidade de ter participado deste momento tão especial dessa linda família.
Lícia, Filip e Teo, minha profunda gratidão.


Gestação e nascimento do Teo

A descoberta

O começo de 2015 foi marcado pela notícia de três bebês na nossa família. E foi exatamente isso que meu marido disse quando recebemos o resultado positivo, em pleno mar do caribe, no cruzeiro em que trabalhávamos: "Ha! Mais um
bebê pra família!" - ele disse enquanto eu olhava incrédula pro rosto do médico que nos atendia no Centro Médico do navio. Um misto de emoções me percorreu, lágrimas caíram aos olhos, já que eu tinha ido até lá pra verificar uma possível infecção uterina, não tínhamos planejado a gravidez e estava com cólicas fortes (o que definitivamente não é um bom sinal quando se tem um diagnóstico de gravidez).
No dia seguinte tínhamos conexão em Galveston - Texas e fomos direto ao Pronto Socorro pra fazer exames mais detalhados e pelo pontinho esbranquiçado no ultrassom confirmamos a notícia: dali alguns meses seriamos papais! Então foi dada a largada para uma maratona de decisões e resoluções. Meu marido é Sérvio e decidimos vir para o Brasil para que eu ficasse mais próxima da minha família com o bebê enquanto ele trabalhasse e por acreditarmos que seria mais facil pra ele achar um novo trabalho por aqui, considerando a economia de ambos países. Então viemos e iniciamos os preparativos pra receber nosso pequeno.

No hospital em Galveston, com o segundo teste positivo.


Quartinho do Teo quase pronto.

A escolha do parto

Minha maior vontade era ter um parto residencial, mas na região onde moramos esse tipo de parto não é tão acessível. Conversando com uma amiga que teve bebê recentemente, fui apresentada ao "Parto Humanizado" e comecei a pesquisar sobre o assunto. Este tipo de parto é respeitoso com a gestante e o bebê independente da forma
de parto, prioriza e incentiva o parto natural (normal sem qualquer tipo de intervenção), a mulher é a protagonista do próprio parto, entre vários outros aspectos que não entrarei em detalhes aqui. Iniciei meu pre natal com uma médica humanizada, contratei uma doula e uma enfermeira obstetra pra me acompanharem. Não conseguiria ter o parto com a médica que fez meu pré natal devido ao alto valor que é cobrado, então junto com minha doula pensamos em alternativas para conseguir um parto mais próximo do natural humanizado possível. Ela me sugeriu passar o trabalho de parto em casa e prosseguir pro CAISM - maternidade da Unicamp - já em fase ativa (quando já tem 7cm ou mais de dilatação) e montar um plano de parto, que é aceito por eles. Dessa forma evitaríamos qualquer intervenção desnecessária.


 Ensaio que fizemos com 32 semanas de gestação

O trabalho de parto

Tudo preparado: malas da maternidade, petiscos, plano de parto de 8 páginas... e na madrugada do dia 12 para o dia 13 de outubro (exatamemte minha DPP - Data Prevista para o Parto), acordei com cólicas tipo menstruais bem fortes. Já tinha tido um alarme desse na semana anterior e não era nada, então fiz o que minha doula recomendou: chazinho e bolsa d'água bem quentinhos e banho demorado. Se ainda não fosse o trabalho de parto, a dor passaria. Mas aquele dia não passou e antes mesmo de amanhecer o meu tampão mucoso se soltou. Mandei um whats app pra minha doula e pra minha enfermeira dizendo: acho que é hoje! Dito e feito, por volta das 10 da manhã minhas contrações começaram, fracas e espaçadas, bem irregulares, as vezes após meia hora, as vezes após vinte minutos. Lembro que tive uma contração fortíssima às 12:40, foi quando liguei pra elas novamente e pedi: "vem que eu to em trabalho de parto!". Elas chegaram em casa por volta das 14:30 e tive meu primeiro exame de toque da gestação. Estava esperando estar com uns 3cm pelo menos considerando a dor que tinha sentido até então e quase tive um negócio quando recebi a notícia: 1cm. Naquela hora eu entendi que o dia ia ser longo!
Iniciamos os exercícios de relaxamento, com respiração e bola de pilates. Música e dança rolando. Minha doula me deu uma sessão psicológica sobre "ir ao encontro da dor" que eu confesso me pegou um pouco de surpresa. Durante toda a gestação eu tentei me preparar ao máximo pra esse momento, mas subestimei um pouco a dor em si. Enfrentar a dor foi algo que eu entendi por completo apenas naquele momento, quando ela estava ali consumindo minhas energias. E nesse ponto, eu ainda não tinha ideia do quão forte elas iam ficar conforme a evolução do trabalho de parto.
Mais cedo do que eu gostaria, as contrações ainda irregulares começaram vir a cada 8, 5, 3 minutos.  Algumas mais intensas, outras mais leves. Eu estava com a bolsa rota (furada) e o líquido amniótico vazava pouco a pouco. Minha doula acompanhando, fazendo chás, massagem e passando os exercícios pra embalar o parto. Meu marido não saiu do meu lado um minuto, aprendeu as técnicas de alívio de dor pra aplicar enquanto estivéssemos no hospital, pois ainda não sabíamos se a doula conseguiria entrar na sala de parto. Assim foi a tarde inteira, vi a noite cair e em torno de 19:30h senti uma contração com uma pontada forte, bem diferente do que eu havia sentido até então. Quando o líquido amniótico escorreu em uma quantidade bem maior, entendi que minha bolsa havia estourado. Pedi pra enfermeira fazer mais um exame de toque e eu ainda tinha apenas 4 pra 5cm de dilatação. Me lembro que a partir dali minhas contrações vieram menos frequentes e menos dolorosas. Eu estava cansada e relaxei muito, o que causou toda a lentidão. Acho que comecei desacreditar no meu parto e é nessa hora que aqueles anjos disfarçados de doula e enfermeira obstetra cochicham fundo no seu ouvido e te fazem acreditar que sim, você consegue, seu corpo foi feito pra isso. Elas me orientaram a entrar no chuveiro quente e abaixar de cócoras a cada contração. "Abraça a dor Lícia, é ela que vai trazer seu filho pro mundo!" - dizia a minha doula. Fomos eu e meu marido pro chuveiro, eu abaixando de cócoras a cada contração e ele me apertando as costas pra aliviar a dor. Não sei por quanto tempo ficamos lá, mas sei que funcionou (e como!). Logo comecei a sentir vontade de empurrar, bem parecida com a vontade de fazer cocô, então decidi ir pro hospital.
Início do trabalho de parto. Nessa hora a ficha caiu e eu chorei horrores!







 Exercício na bola de pilates


Apoio do marido e me alimentando durante 
o trabalho de parto.

No hospital

Resolvemos ir no carro com a minha doula e a enfermeira obstetra foi seguindo a gente com o carro dela. Chegamos no Pronto Atendimento do CAISM por volta das 23h e graças ao bom Deus estava vazio, então fui atendida de imediato. Quando checaram minha dilatação eu já tinha vindo de 9 pra 10cm. Fui levada às pressas pra sala de parto. Minhas lembranças a partir daí já são meio "bêbadas". Você fica meio drogada com toda a dor e os coquetéis de hormônios que o seu corpo fabrica durante todo o trabalho de parto.
Chegando na sala de parto toda a equipe se juntou pra ler meu Plano de Parto. Fiquei impressionada com o respeito deles, conversando comigo o tempo todo, esclarecendo as dúvidas que tinham sobre meu plano e quão abertos eles foram com cada pedido meu. Desejo que toda equipe obstétrica lide com um parto como lidaram com o meu.
Eles se retiraram da sala e me deixaram apenas com meu marido e eu tive que me "doular" sozinha pois não deixaram minha doula entrar com agente. A cada contração abaixava de cócoras e fazia força, já estava sentindo vontade de empurrar e a intensidade de cada contração era imensa! Uma das médicas entrou na sala e checou a dilatação novamente. Eu já estava com 10 cm e a cabeça do Teo estava no ponto 0 (a escala vai de -3 a 3, então ele já estava na "metade do caminho"). A equipe toda se juntou e me prepararam para o expulsivo: posição similar à cócoras na maca, panos pra todo lado, ferramentas na mesa... "Agora vai!", pensei. Mas minhas contrações simplesmente desaceleraram. Vinham agora de 5 em 5 minutos e menos intensas. Os bebês realmente têm o tempo deles de nascer e meu pequeno tão genioso desde a barriga resolveu que não ia ser naquele momento e ponto. Me ofereceram ocitocina, eu neguei a princípio, mas aceitei por fim devido a exaustão. Estava considerando tomar anestesia também, a dor era muito forte, mas tinha medo que os batimentos cardíacos do bebê caíssem ou que eu não tivesse força pra empurrar. Em  qualquer uma das situações eu iria terminar ou em cesária ou tendo que utilizar fórceps, fazer episiotomia... Nessa hora minha fé ficou bem abalada, achei que não ia conseguir, que ia arruinar meu parto até ali tão perfeito... foi quando os integrantes da equipe chamaram o médico chefe. Ele veio, checou minha dilatação e disse que tinha uma membrana atrapalhando a virada da cabeça do bebê e que ele poderia tentar uma manobra pra jogar a membrana por trás da cabeça dele. Eu lembro que só falei: manda ver doutor, vamos tirar essa criança daí! Rs. Ele fez a manobra e daí por diante o expulsivo embalou.


Aqui tinhamos recebido a notícia de que ele estava no ponto 0. Mandamos WhatsApp pra família avisando: Tá na metade do caminho!!

O nascimento

Eu já estava com ocitocina na veia então as contrações vinham com tudo. Não sei por quanto tempo eu tive que empurrar, mas senti meu filho escorregando pouco a pouco, a cabeça coroando, o famoso círculo de fogo (e que fogo, arde muito!!), a cada contração eu concentrava todas as minhas forças e empurrava como se não houvesse amanhã! Logo mais a cabeça saiu. Lembro do meu marido sorrindo e falando: tem um bebê de verdade ali! E na próxima contração senti parte a parte do corpinho dele saindo de uma vez de dentro de mim. O médico olhou pra ele: ele está bem, entrega ele pra ela. E lá estava meu Teo. Chorou um pouquinho e parou assim que deitou no meu peito. Nasceu de olho aberto e ficou me encarando, nunca vou esquecer essa troca de olhares que tivemos nos seus primeiros segundos de vida e tenho certeza que ficará também gravado no subconsciente dele pra sempre. Naquele momento nasceu um bebê, uma mãe, um pai e aquele amor maior do mundo que tantos pais falam mas que você entende somente quando passa por isso. Ele nasceu às 2:26h do dia 14/10/2015. Meu marido que cortou o cordão umbilical e somente após parar de pulsar. Foram aproximadamente 14 horas de trabalho de parto, incluindo um expulsivo prolongado de 2 horas. Tive uma laceração grau 2 e levei 4 pontos no períneo. O Teo nasceu com 3,330Kg, 50cm e com o melhor APGAR possível: 10 de 10. Mamou no meu peito um tempão na primeira hora de vida. Não fizeram nele nenhuma intervenção que eu não tivesse autorizado e meu marido acompanhou todo o atendimento dado a ele. Com todos os imprevistos, o final foi perfeito!


Família reunida logo após o nascimento. 



Quando eu ganhei aquele olhar... é muito amor!


Primeiro tetê, dado com a ajuda de uma das enfermeiras na primeira hora de vida.

Sentimentos e sugestões

Ser mãe é maravilhoso. Eu sou apaixonada pela minha cria, por mim parava o mundo pra viver só pra ele. Quanto ao parto, muita gente me pergunta se dói. A má notícia é que dói, e muito! Pra mim foi uma dor que nunca senti na vida. A boa notícia (boas notícias, na verdade): 1. Somos mais fortes do que pensamos. 2. Cada parto é diferente. O meu doeu muito, mas não significa que de todas as mulheres ou meu(s) futuro(s) parto(s) vão doer igual. 3. Você sempre pode ter qualquer intervenção ao seu dispor, inclusive anestesia. No meu caso sentir a dor até o final foi opcional. 4. Compensa E MUITO! Não tem experiência na vida que se compare ao parto. Cuidei do meu filho sem problemas desde o dia 1 e depois de uma semana eu já estava tão bem que poderia dançar ballet e abrir espacato se eu quisesse (exagero! Rs me senti muito bem, mas tem que dar o tempo da recuperação dos pontos pra fazer atividades de maior esforço, o que leva uns 30 a 40 dias).
Minha mensagem final é: empodere-se. Pesquise sobre as formas de parto, intervenções existentes (maioria desnecessárias), não seja apenas passiva aos médicos pois muitos ainda desencorajam as mulheres a terem parto normal pela comodidade da cesária. Se você é mulher, grávida ou pretende ter filhos um dia e quer ter cesária, ao menos pesquise sobre o parto natural e seus benefícios em comparação à cesária ou um parto normal cheio de intervenções. Se depois de todo o conhecimento você ainda optar por uma cesária, ok, pelo menos você estará fazendo consciente baseando-se em evidências científicas, não em mitos que o povo insiste em espalhar. O mais importante: informe-se sobre as intervenções realizadas no bebê em seus primeiros momentos de vida (o que ocorre não por extrema necessidade na maioria dos casos, mas sim por pura conveniência da equipe médica). Não estou generalizando, mas infelizmente o Brasil ainda tem um enorme índice de violência obstétrica e isso só vai mudar quando as mulheres abrirem os olhos e se informarem. Decidiu pelo parto normal natural? Contrate uma doula e opte por um ginecologista obstetra/hospital que aceite a doula na sala de parto. As doulas são especialistas em não te deixar desistir e ajudam a passar pela dor ou qualquer medo que possa surgir durante o parto. E por último:  acredite em você e no seu corpo. Toda mulher é capaz parir!
Parto é música, é poesia, é amor. Faça do seu um momento respeitoso e único, depois é só colher os frutos disso na sua vida e na vida do seu filho (acredite, faz diferença!).

Beijos a todos da família Milosavljevic!

Participantes da gestação e parto do Teo:
Ginecologista Obstetra Humanizada que acompanhou o pré natal: Dra Mariana B. Simões.
O nascimento aconteceu no CAISM – maternidade da Unicamp – com a equipe de plantão.
Doula: Egle Veríssimo Darin Benfatti (Facebook: Egle Prema Shunyatta).
Enfermeira Obstetra: Kétellyn Guimarães (Facebook: Kétellyn Guimarães).
Ensaio fotográfico gestante e newborn: Aline Pinheiro (Facebook: Aline Pinheiro Fotografias).

2 comentários:

  1. Achei o máximo Licia! Parabéns pela coragem...agora é só alegria!😊

    ResponderExcluir